Ah! foi partida a taça de ouro! o espírito fugiu!
Que dobre o sino! Uma alma santa já cruza o Estígio rio!
E tu não choras, Guy de Vere? Venha teu pranto agora, ou nunca mais! No rude esquife jaz teu amor, Lenora! Leiam-se os ritos funerários e o último canto se ouça, um hino à rainha dentre as mortas, a que morreu mais moça. E duplamente ela morreu, por que morreu tão moça! "Pela riqueza a amastes, míseros, o seu orgulho odiando, e, doente, a bendissestes, quando a morte ia chegando. E como, então, lereis o rito? Os cantos de repouso entoareis vós, olhar do mal? Vós, o verbo aleivoso, que o fim trouxestes à existência tão jovem da inocência?" Peccavimus; mas não se irrites! O réquiem tão solene e embalador ascenda aos céus, que a morta já não pene! Para aguardar-te ela se foi, tendo ao lado a Esperança e tu ficaste, louco e só, chorando a noiva criança, meiga e formosa, que ali jaz, magnífica, sem par, com a vida em seus cabelos de ouro, mas não em seu olhar, com a vida em seus cabelos, sim, e a morte em seu olhar. "Ide! Meu coração não pesa! Sem canto funeral, quero seguir o anjo em seu vôo com um velho hino triunfal. Não dobre mais o sino! que a alma em seu prazer sagrado não o ouça, triste, ao ir deixando o mundo amaldiçoado. Ela se arranca aos vis demônios da terra e sobe aos céus. Do inferno, à altura se conduz e lá, na luz dos céus, livre do mal, da dor, se assenta num trono, aos pés de Deus!"
EDGAR ALLAN POE
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terça-feira, 28 de julho de 2015
Lenora
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